Por que a criminalidade em São Paulo ainda tira o nosso sono?

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Qual de nós, em algum momento, não foi assaltado ou não enfrenta esse risco diariamente? Qual de nós pode dizer que sai à noite sem qualquer receio ou sem ficar olhando para os lados o tempo todo? E de dia, esse risco não existe? Se olharmos atentos para os dados da própria Secretaria de Segurança Pública do Estado, veremos a quantidade de crimes registrados anualmente – sem contar aqueles em que o cidadão não registra o boletim de ocorrência, a forma como ocorrem e como afetam o dia a dia da população.

Pode ser que tenham diminuído, como disse, em nota, a Secretaria, mas a verdade é que os números ainda são altos, sendo necessário pensar: O que falta, afinal, para coibir de vez a ação de criminosos e reduzir drasticamente o número de crimes como estupro, homicídio e roubo na cidade e no Estado? 

E claro, colocar a culpa na polícia, é o caminho mais fácil, mas está longe de ser a realidade. As corporações e os batalhões atuam incansavelmente nas ruas, mas falta um braço forte do poder público.  

“Eu estava quase chegando em casa, naquele dia vim de metrô porque achei que seria mais rápido e foi. Quando desci no metrô Penha, comecei a subir a Major Ângelo Zanchi e já passava das 23h. Tudo calmo, quando do nada, em uma das travessas surgem dois homens, aparentavam ter 1m72 e levaram meu celular, me mandando seguir sem olhar para trás. Pensei em reagir, por revolta, mesmo, mas, a vida vale muito mais que um celular e no fim, eu só queria chegar em casa”, conta Fábio Benedito, morador da Penha.

O caso ocorreu em fevereiro, mas situações iguais a esta, ocorrem diariamente em São Paulo. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, em 2023, foram registrados 221.955 casos de roubo em geral. Este ano, o número de registros de roubo já chega a 83.463. 

“Aqui no Tatuapé, empreendemos uma ação forte de combate à criminalidade e conseguimos reduzir bem os indicadores. Eu atuo aqui na região há 11 anos. Não é um trabalho fácil, mas com apoio da comunidade a gente faz o que pode e entrega resultados”, afirma um cabo da PM, em conversa com este repórter.

Números expressivos
Na capital, em 2023, ocorreram 481 assassinatos. Em 2022, foi registrado um número total de 560 homicídios dolosos. Este ano, completos 6 meses, o registro já aponta 188 casos de homicídio. 

Procurada, a Secretaria informou que monitora os dados por meio do SP Vida, sistema que auxilia na criação de políticas públicas de enfrentamento, e como resultado: “São Paulo fechou os últimos 12 meses (de junho de 2023 a maio de 2024) com as menores taxas de casos e vítimas de mortes intencionais – indicadores que reduziram 7,9% e 8,2%, respectivamente, nos primeiros cinco meses deste ano. Na Capital, por exemplo, os registros de homicídios, tanto em maio como no acumulado, foram os menores em 24 anos”, garante a pasta.

Estupros
Outro fator importante, que precisa de atenção do Governador e também dos deputados da Assembléia – responsáveis por legislar as leis que nossos policiais precisam cumprir, é com relação aos índices de estupros. Em 2023, só na capital, foram registrados 3.041 casos de estupro, sendo destes, 2.290 envolvendo a menores de 14 anos, o chamado “estupro de vulneráveis”.

“Uma vez percebi um carro me seguindo de longe. Achei que fosse uma bobagem minha, estava passeando num domingo à tarde, quem poderia estar me seguindo. Mas estavam. Eu continuei andando, tinha saído de casa um pouco, para comprar pão, bala e uns biscoitos para minha mãe. Não tinha andado nem um quarteirão, e lá estava o carrão a uns materos atrás de mim. Apertei o passo, o carro também acelerou um pouco mais. Foi chegando perto, quando de repente ficou lado a lado, a porta abriu e o cara de dentro gritou: ‘entra logo ou atiro’. Eu saí correndo para trás em disparada e entrei na primeira rua que vi. Deus me livre se não tivesse percebido antes, o que teria feito comigo aquele monstro”, afirma E.V, de 12 anos, filha de comerciante e moradora da Vila Matilde.  

Em todo Estado, em 2023, o número de estupros envolvendo crianças foi de 11.141 casos registrados. Isso sem falar naqueles em que a família resolve não envolver a polícia, seja por medo, por vergonha ou quando a criança não fala. Ainda não estamos na metade de 2024, e os dados da Secretaria já mostram que o número geral de ocorrências de estupros é de 5.866.

“O criminoso age porque não fica preso. Ele sabe disso, o policial leva para o DP e dali uns dias, talvez horas, o meliante acaba solto. E o pior, o militar se expõe e coloca em risco a sua vida. Mas, quando se trata de criminalidade, se isso é comum nas mais altas hierarquias do país, o que dizer de nós, a base dessa pirâmide?”, opina o idoso Mário Tavares, aposentado da Força Aérea Brasileira. 

Enquanto essa reportagem foi elaborada, a Secretaria já registrava até o momento, 895 casos de estupro de vulneráveis.

Furtos e roubos
Em se tratando de furtos, foram registrados no Estado, em 2023, 562.610 ocorrências. Os furtos em geral são aqueles que não há violência na abordagem, ou seja, quando a pessoa é roubada sem sentir ou não estando próximo do seu bem. Este ano, o número de ocorrências de furto em geral é de 229.257 até o momento. 

Na capital, por sua vez, o número registrado até o momento é de 98.697 ocorrências de furto.

Segundo a Secretaria: “Os roubos de veículos tiveram a menor quantidade de casos desde 2001. Esse recorde também ocorreu na Capital. No interior, por sua vez, houve o menor número de roubos em 24 anos, se analisados os primeiros cinco meses de 2024”.

Em 2023, foram registrados 37.471 roubos de veículos em todo Estado, ante 41.721 registrados em 2022 e 33.041, em 2021. Ou seja, os números oscilam, mas permanecem expressivos. Só na Capital, este ano, já foram registrados 5.041 casos de roubo de veículo. 

“Falta muita coisa, um dos problemas é que nossas leis possuem muitas brechas. E acredito que é dever do Estado e principalmente do poder legislativo, buscar mecanismos para realmente defenderem a sociedade dos criminosos, para que estes não voltem às ruas, para que permaneçam cumprindo suas penas, trabalhando se for o caso, e para que tantos outros se sintam inibidos de tentarem qualquer coisa errada, porque saberão que se a polícia os prender, dificilmente sairão. Cabe aos legisladores cumprirem a famosa promessa de ‘fortalecer a segurança pública’. Na hora do ‘vamos ver’, qual é o deputado que vai pras ruas prender bandido?”, afirma o advogado Maurício Toledo.

Uma das perguntas que fica é: “Será que o Governo do Estado e a Assembléia Legislativa, não poderiam tornar as leis mais rígidas para que estes indicadores de fato apresentassem números mais convincentes”?

Por que apesar de toda promessa e por mais que se defenda uma redução, tais indicadores continuam absurdos e o paulistano ainda não se sente tão livre e seguro, para “ir e vir” como defende a Constituição e como querem, o Executivo e o Legislativo, nos fazer crer.

Reportagem: Fernando Aires. Foto: Divulgação.

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